L`état c`est moi – O Estado sou eu
Em 13 de novembro de 2021 – Redação – Por Sylvain Levy – Médico e Psicanalista
Alguns fatos, falas e silêncios nos últimos dias permitem traçar um perfil do presidente da República.
Fato 1 – O presidente assina um decreto conferindo um titulo honorifico a cientistas brasileiros – Comendador da Ordem Nacional do Mérito Cientifico. Nesse decreto estão incluídos dois pesquisadores da FIOCRUZ que o presidente considerava desafetos por defenderem posicionamentos científicos diferentes de suas opiniões pessoais.
Fato 2 – O presidente assina outro decreto excluindo os dois pesquisadores da referida Ordem.
Fato 3 – Fica constatado que a assessoria do presidente (GSI, por suposto) não filtrou um documento a ser assinado pelo presidente da República.
Fala do governo – Nenhuma
Silencio do governo – Total
Fato 4 – Vinte e três agraciados, todos cientistas e uma Personalidade Nacional, João Candido Portinari, renunciam receber a honraria. A Academia Nacional de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência avalizam o gesto e criticam o cancelamento do premio.
Sequencia e consequência – Na sociedade, repúdio. No governo nada. Como se nada houvesse acontecido.
Fato 5 – 37 dirigentes do INEP, Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira solicitam exoneração de seus cargos, às vésperas do ENEM.
Fala do governo – Questão interna do órgão.
Fato 6 – O presidente da República afirma que com a nomeação de Nunes Marques “tenho 10% de mim dentro do Supremo”.
Fala do Ministro – nenhuma
Silencio ensurdecedor
Sequencia e consequência – Nunes Marques continua votando como deseja o governo Bolsonaro.
Fato 7 – A delegada da Polícia Federal que era responsável no Ministério da Justiça pelos pedidos de extradição de criminosos junto a Interpol é exonerada após dar andamento ao pedido de prisão de Allan dos Santos, amigo dos filhos do presidente e blogueiro mor das fake news bolsonaristas.
Falas criticas nos jornais, silencio no governo.
Fatos anteriores – A Procuradoria Geral de Republica (PGR), a Policia Federal (PF), a Receita Federal (RF), o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Controladoria Geral da União (CGU), a Advocacia Geral da União (AGU), todos órgãos de Estado foram infestados pelo bolsonarismo presidencial.
Sequencia e consequência – O estado é cooptado pelo governo e os representantes do estado pelo presidente.
A defesa dos atos do governo era feita inicialmente pelo presidente e seus filhos. Com o passar dos tempos essa tarefa ficou delegada aos parlamentares e políticos vinculados a família presidencial e atualmente nem isso ou nem esses.
São os súditos e convertidos que fazem essa função. A Internet e suas redes sociais comprovam isso.
A olímpica indiferença de Bolsonaro aos fatos relatados e o silêncio governamental indicam que o presidente está se lixando para a opinião pública, sem nenhum interesse em se explicar para ninguém, até porque para os seus seguidores e partidários qualquer palavra é desnecessária. Isso aponta na direção de um regime monárquico onde o mandatário se sente confortável em não dar explicações. Não é preciso, pois não só o governo é ele como o próprio estado o é.
Essa concepção se ajusta as mil maravilhas com a observação de Wilhem Stapel, um dos ideólogos do nazismo e autor de diversos discursos de Hitler “O Nacional Socialismo é uma ideologia básica. Não adianta tentar rebater o nacional socialismo com argumentos, eles não existem. O único argumento é o Fuher, o líder. Não importa o que ele fala, mas que quem fala é ele”