Governo cria portaria dos “pontos cegos” — mas segue cego para o resto do DF
Enquanto o trânsito ganha adesivo novo, a população continua desviando dos buracos, dos atrasos e da eterna miopia administrativa. No DF, o problema nunca é a falta de placa — é a falta de governo
Em 14 de novembro de 2025 – Redação
A Portaria nº 294/2025 chegou com pompa: agora todos os ônibus do DF deverão exibir adesivos alertando sobre os “pontos cegos” dos veículos. A ideia, claro, é nobre. Segurança no trânsito, conscientização, prevenção. Tudo isso cabe muito bem nos anúncios oficiais, nos releases caprichados e nas lives onde cada detalhe vira grande conquista.
Mas, na prática, o cenário é outro.
Os ônibus podem até ganhar novos adesivos, mas continuam lotados, atrasados, quebrando no meio do caminho e circulando em corredores que mais parecem trilhas lunares. Se o objetivo é evitar acidentes, talvez o primeiro passo fosse impedir que o passageiro se acidente dentro do próprio coletivo.
Os operadores terão 90 dias para colar os adesivos. Ótimo.
Mas o governo? Há quantos anos está devendo a reforma estrutural do transporte público?
O alerta de “ponto cego” nos ônibus é quase um meme pronto:
o DF inteiro já sabe que o maior ponto cego está no próprio governo, que enxerga tudo — menos a realidade.
Enquanto o secretário Zeno Gonçalves celebra a novidade, o cidadão continua fazendo malabarismo para trabalhar: pega dois, três ônibus, encara terminais improvisados, perde conexão, chega atrasado. Mas, pelo menos, agora terá uma placa avisando que o ônibus tem ponto cego. Como se isso resolvesse o caos.
A portaria entra em vigor imediatamente.
A solução do transporte? Essa continua aguardando publicação — provavelmente perdida em algum ponto cego da gestão.

