Refeição a 1 real é sucesso nos restaurantes comunitários do DF
Desde segunda-feira (30/9) o preço foi reduzido pela metade e, em média, houve aumento de 23,8%, nas vendas dos 11 restaurantes
GIZELLA RODRIGUES, DA AGÊNCIA BRASÍLIA
Angelina Ângela do Nascimento Caetano, 26 anos, vende salgadinhos na rua e, em dias de boas vendas, fatura R$ 30. Com o orçamento apertado, ela almoça diariamente no Restaurante Comunitário de Planaltina com os dois filhos, Lucas, 7 anos, e Yasmin, de 3, antes de deixá-los na escola. Menos quando esquecia o cartão que comprovava que ela era inscrita no Cadastro Único (CadÚnico) e tinha que pagar R$ 6 nas três refeições.
“Eu venho de ônibus, não ia voltar em casa e gastar mais uma passagem. Já teve dia que o comércio não estava bom e tirei apenas R$ 10”, conta.
Naqueles dias em que o cartão ficava em casa, as crianças chegavam na escola sem comer nada. “Eles ficavam sem almoçar e comiam um lanche reforçado quando chegavam”, diz. Agora, as crianças e a mãe têm a refeição garantida. Desde segunda-feira (30/09), por determinação do governador Ibaneis Rocha, o prato custa R$ 1 para toda a população. Angelina compra três marmitas e o que sobra é levado para casa e vira janta.
Em Planaltina, o relógio marca 11h e já tem fila na porta. Nesta terça-feira (1/10), mais de 700 refeições tinham sido vendidas 48 minutos depois do restaurante ter sido aberto. Diariamente, cerca de 1,8 mil pratos e marmitas são consumidos. Na segunda-feira da semana passada (23/09), 1.934 pessoas almoçaram no local. No primeiro dia em que os preços foram reduzidos pela metade do preço, o número subiu para 2.132 — 10% a mais.
“A gente vê rostos conhecidos, mas que deixaram de comer aqui e agora voltaram”, afirma a gerente do Restaurante Comunitário de Planaltina, Laíza Barbosa. Em 2015, a então gestão do GDF aumentou o valor da refeição de R$ 1 para R$ 3. Após perceber que o preço era inviável para pessoas de baixa renda, em junho de 2016, o governo à época instituiu que seriam R$ 2 para o público geral e R$ 1 para os inscritos no CadÚnico.
Na volta à cobrança de R$ 1 para todos os consumidores, aumentou 23,8%, em média, a procura da população nos 11 restaurantes comunitários do DF. Foram vendidas 15.492 refeições nos restaurantes populares, quase 3 mil a mais do mesmo dia da semana passada, quando 12.678 pessoas almoçaram com o preço antigo.
A população faz fila para comer uma refeição saudável e balanceada, com salada, sobremesa e um copo de suco incluídos no valor de R$ 1. O cardápio desta terça era carne bovina cozida com mandioca, farofa de cenoura e cebola, tomate e acelga, arroz branco, feijão (preto ou carioca), um tablete de doce e suco. “A comida é muito boa. Quando a gente come na rua, a comida tem muito sal”, diz Antônia Serafim dos Santos, 36 anos.
Ela almoça no Restaurante Comunitário de Sobradinho II quase todos os dias com o filho Maicon Santos da Silva, 9 anos, que é fã da feijoada servida às sextas-feiras. Quando não vai ao restaurante, ela compra uma marmita vendida perto da casa dela por R$ 10. “Prefiro vir almoçar aqui. Com a diferença do preço que gasto com a marmita, faço um lanche melhor em casa”, afirma.
A aposentada Raimunda Vieira dos Santos Nogueira, 77 anos, é cliente do Restaurante Comunitário de Sobradinho II desde que ele foi inaugurado, em 2011. Ela come no local todos os dias. “Quando não venho, minha irmã leva marmita para mim”, explica. O preço de R$ 2 não inviabilizava que ela almoçasse ali, mas ela confessa já ter planos para os cerca de R$ 25 que vai economizar.
“Vai me ajudar a comprar meus remédios. Tomo três medicamentos para a pressão e apenas um consigo na farmácia popular”, diz. “Minha aposentadoria é de apenas um salário. A gente que ganha pouco tem que se virar”, completa.
A estudante Misalene de Souza Santos, 42 anos, também fazia esforço para pagar os R$ 2, mas reconhece que o novo preço faz diferença no orçamento. Todos os dias ela vai ao restaurante de Planaltina e leva comida para os três filhos.
“Pagava os R$ 2, mas com sacrifício”, conta a mulher que está desempregada há 4 anos. “Eu sou brigadista, mas desisti de procurar emprego na área e estou fazendo curso de técnico de enfermagem e de bombeiro civil. A gente vive com a renda do meu marido que também está desempregado, mas faz uns bicos”, relata.GALERIA DE FOTOS