Pensando Bolsonaro
Artigo escrito pelo médico e psicanalista Sylvain Levy
Em 02 de agosto de 2021 – Redação
O presidente da república Jair Bolsonaro funciona como uma metralhadora giratória de fatos, propostas e assuntos. Às vezes são contraditórios, às vezes são repetitivos, raramente com novidades novas. Nem sempre coerentes, nem sempre com base legal essas falas configuram discursos que ganham espaços nos meios de comunicação como notícias ou como entrevistas exclusivas que ecoam nos demais jornais, rádios e TV’s.
É simples assim: as suas falas ganham repercussão por se tratar do presidente da república.
Apenas em um dia, na semana passada, a Folha de São Paulo, jornal que Bolsonaro detesta e agride (inclusive os seus repórteres) a todo instante, publicou cinco reportagens sobre falas e fatos protagonizados pelo presidente.
Outros órgãos da grande imprensa fazem o mesmo, mantendo um circulo vicioso em que um lança impropérios sobre o outro, ambos acusam os golpes e continuam a diatribe. Um precisa do outro, como numa situação em que uma mão lava outra e ambas permanecem sujas.
Por parte da imprensa parece ser a busca pela noticia e a divulgação de fatos pertinentes, e por parte de Bolsonaro, o que o leva a esse tipo de comportamento?
Menos como respostas e mais como exercício de pensamento, é possível lembrar de dois personagens, Steve Bannon e Wilheim Stapel. O primeiro é um conhecido estrategista político da direita americana, considerado um dos grandes responsáveis tanto pela eleição de Donald Trump, nos EUA, como pela vitória do brexit, na Europa.
Stapel foi um escritor alemão da primeira metade do século passado, reconhecido como um dos ideólogos do nazi-fascismo e autor de diversos discursos de Hitler.
Bannon orienta que o dirigente fale sobre tudo, com continuidade e verborragia, sem se importar com a verdade ou com a coerência. O importante é ocupar espaços na mídia, inclusive criticando-a, de forma a que sejam reduzidos os
espaços e os tempos disponíveis para qualquer outro partido ou oponente.
Já Stapel, em um debate sobre ideologias pontuava: “o nazi-fascismo é um movimento elementar, portanto procurar contrapor argumentos a ele é infrutífero. Ele não usa argumentos, o argumento é o chefe, o Fuher”. Aproximando para o Brasil de hoje, o argumento é Bolsonaro. Não importa o que ele diga, o importante é ele o dizer.
Ao considerar notícia e difundir tudo o que o presidente da republica fala, as mídias impressas, radiofônicas, televisivas e eletrônicas estão simplesmente entrando no jogo de Bolsonaro, como se fossem orientadas por Bannon e Stapel.