Chegou o COVID-19 o Governador ainda não
Em 07 de julho de 2020 – Por Fernando Neto
Criaram uma expectativa cinematográfica sobre a gestão do atual governador Ibaneis Rocha, confesso que em certa medida também fui seduzido a acreditar que pela sua vitória pujante, retórica, seu comportamento agressivo, executivo, o gigantesco arco de alianças e o pouco poder de reação da oposição, o governador entraria para história apagando o místico signo de Roríz sobre a Capital.
O primeiro ano de mandato frustrou otimistas, bajuladores, aduladores e opositores interessados em navegar em maré calma buscando bom acordo para sobreviver. Ibanez fez o óbvio, manteve a cidade limpa, reduziu o aumento imperdoável de Rollemberg sobre os restaurantes populares, finalizou duas obras centrais no coração de Brasília e só. Com uma observação, a reforma megalomaníaca da ponte do Bragueto no fim da Asa Norte, inspirada no volume de trânsito paulista, se não for real o escoamento do trânsito pelos eixos W e L vinculados à ampliação das vias de acesso Planaltina – Sobradinho, a obra faraônica serviu para nada, como aliás servem várias obras na Capital do país.
O segundo ano iniciou como muita promessa, retórica midiática e um cala boca aos servidores públicos do Distrito Federal, outrora clientes de seu escritório que lhe ajudaram se tornar um dos homens mais ostentadores de riqueza pessoal da cidade, estes, parece que não recebem do seu antigo advogado o mesmo carinho e atenção de outrora. A verdade é que essa relação importa pouco para a cidade, importaria mesmo um grande programa de reforma urbana, certamente assessores e dirigentes de todos os escalões do atual governo não devem saber nem o início ou fim do que proponho, a preocupação com o lobby é muito maior que os interesses da cidade, o atual governo é conduzido por interesses diversos, menos o da população.
No meio do caminho uma pandemia crítica de repercussão mundial, particularmente aplaudi as primeiras ações do Governador e do Governo, assumiram a estratégia do isolamento social horizontal, trabalharam com critérios técnicos e de planejamento para o controle do contágio apresentados pela Codeplan, Casa Civil e Secretaria de Saúde e deram prumo a gestão de recursos humanos nos hospitais públicos, assumiram o controle da situação, contrariando inclusive as mobilizações do atual Presidente da República junto aos Estados em caminho oposto, a primeira impressão foi de ter caído como uma luva a oportunidade de ser governador e Ibaneis Rocha vestiu com perfeição o papel de comandante em meio a crise.
Mas os dias se passaram e com as oportunidades surgindo Ibanez não traiu a si – traiu a necessidade da população de sobreviver e de se manter salva – seus interesses e seu jeito proselitista e jacobino não, rapidamente mudou de postura, o discurso, o rumo e acentuou a desmobilização por isolamento em plena escalada do contágio e das mortes do COVID-19 no Distrito Federal, paralelo a isso parece governar com o intestino grosso, muda de humor conforme suas indigestões e ficamos a mercê de devaneios. Ibaneis Rocha perdeu a grande oportunidade de ajustar o curso do seu governo e ter o controle da história.
Podem até maquiar os dados, mas a verdade é que já morreram mais neste primeiro semestre que todo o ano passado, isso demonstra que na prática, Ibaneis tratou o cidadão brasiliense como dado estatístico e abriu mão de cuidar das vidas em nome de sua popularidade, parece mesmo que quando sobe a cabeça o poder e o dinheiro fazem qualquer um mudar de humor e de conduta, Brasília continua merecendo mais do que já vivemos até aqui.
Fernando Neto
Ex Secretário de Estado de Juventude do GDF
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