Cenas dos Tempos
Licão de Vida ou Gueto de Ouro
Em 21 de agosto de 2021 – Redação – Por: Sylvain Levy – Médico Sanitarista e Psicanalista
Cena Um
O Ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro provocou celeuma nessa semana ao declarar que crianças com necessidades especiais atrapalham os demais alunos nas aulas. Criticado por muitas pessoas, inclusive o senador Romário, pai de Ivi, portadora de Síndrome de Down, o Ministro enfatizou que essas observações aconteceram por terem retirado suas declarações de contexto e complementou suas ideias com a proposta de serem criadas escolas especiais, com professores capacitados e currículos específicos.
Do ponto de vista dos conceitos de inclusão a emenda ficou muito pior que o soneto. Essa ideia é equivalente a criar gaiolas de ouro ou guetos de exclusão sob o pretexto de proteção. Só que esta proteção é, na prática, a das pessoas não especiais ou ditos normais dos alunos com necessidades especiais, àqueles que “atrapalham”.
Cena Dois
Uma pessoa das minhas relações me conta a seguinte história: Meu filho de três anos estuda numa escola que aceita alunos com necessidades especiais. Na classe dele tem uma menininha da mesma idade. No começo do ano ele me disse que não gostava dessa coleguinha porque ela não entendia nada e nem o que ele falava pra ela. Fui conversando
com meu filho sobre as diferenças entre as pessoas e o tempo e a convivência foram modificando a situação a ponto de encontrar os dois – meu filho e ela – brincando no parquinho na saída da escola e, ao contar uma história para meu filho ele pedir para incluir a coleguinha como personagem da fábula.
Inclusão é isso.
Essas cenas lembraram-me uma frase que li num texto judaico: “O verdadeiro religioso não quer converter os outros a sua fé, mas ajudar a fazer do mundo um local mais humano”.
Pode-se indagar o quanto esse pastor que ocupa o Ministério da Educação entende disso? Porque de educação e de inclusão ele entende muito pouco.