Aluno de escola com gestão da PM no DF é esfaqueado após briga por bullying

Vítima, de 14 anos, foi atingida por colega na saída da aula. Suspeito pode ser transferido, diz Secretaria de Educação.

Por G1 DF e TV Globo

22/08/2019 09h35  

Um aluno de 14 anos do Centro Educacional 7 (CED 7) de Ceilândia, no Distrito Federal, foi esfaqueado na saída da aula. A unidade é uma das oito escolas públicas da capital que trabalham em gestão compartilhada com a Polícia Militar desde o início do ano letivo. O caso ocorreu por volta das 19h desta quarta-feira (21).

A vítima recebeu um golpe de canivete na barriga e foi levada, estável, para o Hospital Regional de Ceilândia. O suspeito, de 15 anos, foi apreendido em flagrante e encaminhado para a Delegacia da Criança e do Adolescente 2 (DCA-2). Ele também é estudante da escola em gestão militarizada.

A briga foi motivada por bullying, segundo a Polícia Militar do DF.

Segundo nota enviada pela Secretaria de Educação, “os policiais militares da gestão compartilhada da escola perceberam a movimentação diferente em frente à unidade e rapidamente contiveram a briga”.

O suspeito pode ser advertido, suspenso ou transferido de escola, segundo a secretaria. “Atos de violência nos ambientes escolares não serão tolerados”, completou a secretaria.

Outro caso

Em abril, a Corregedoria da Polícia Militar abriu investigação para analisar a ação de PMs dentro do CED 7. Vídeos que circularam nas redes sociais mostraram uma briga entre alunos e, depois disso, militares agredindo dois estudantes.

Em um dos vídeos, um militar deu um mata-leão em um jovem. Em outro, um PM empurrou um aluno, que caiu.

Polícia Militar derruba estudante do Centro de Ensino 7 de Ceilândia, no DF — Foto: Reprodução

Polícia Militar derruba estudante do Centro de Ensino 7 de Ceilândia, no DF — Foto: Reprodução

Um terceiro policial apareceu em cima de um adolescente, protegendo o rapaz, que seria o alvo das agressões, que se iniciaram enquanto cerca de 1.200 adolescentes cantavam o Hino Nacional antes de entrar para as salas de aula.

Na ocasião, a diretora pedagógica da escola, Adriana de Barros Rabelo Souza, disse que os policiais agiram corretamente e classificou o caso de “fato isolado”.

A Secretaria de Educação justificou a ação do PM como proteção à integridade dos alunos que estariam brigando. De acordo com a pasta, “os policiais evitaram que os envolvidos se machucassem”.

CED 7 de Ceilândia iniciou o ano letivo com a gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

CED 7 de Ceilândia iniciou o ano letivo com a gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

Gestão compartilhada com a PM

O CED 7 aderiu à gestão compartilhada com a Polícia Militar em fevereiro, após eleição com 58% dos votos favoráveis à mudança. Foram anunciadas as seguintes mudanças:

  • Estudantes deverão usar um uniforme diferente, que será distribuído de forma gratuita.
  • Meninos terão que usar cabelo curto; meninas, coque;
  • Cada escola vai receber de 20 a 25 militares – PMs ou bombeiros que estão na reserva ou sob restrição médica.
  • A gestão vai ser compartilhada: professores, diretores e orientadores vão continuar cuidando da parte pedagógica. Os militares, das atividades burocráticas e da segurança, como controle de entrada e saída, horários e filas;
  • Os policiais vão dar aulas, no contraturno, de musicalização, ética e cidadania.

Segundo o governo do Distrito Federal, os colégios inicialmente escolhidos para o programa – entre eles, o CED 7 –, foram escolhidos para abrigar a iniciativa porque apresentam “alto índice de criminalidade” e têm estudantes com “baixo desempenho” escolar.

A ampliação do projeto, em agosto, levou à exoneração de Rafael Parente, que comandava a Secretaria de Educação desde o início do governo Ibaneis.

No sábado (17), o GDF organizou votações para análise da proposta em cinco unidades de educação. Duas rejeitaram o modelo mas, na segunda (19), Ibaneis afirmou que implementaria o projeto nas cinco escolas, inclusive nas que votaram contra a medida. Segundo Parente, esse não era o compromisso firmado entre a comunidade escolar e a Secretaria de Educação.

“Não é sensato você pegar um programa que é bom e forçar a barra para implementar em um lugar em que as pessoas não querem aquele programa”, disse Parente.

Ibaneis, no entanto, manteve a decisão de aplicar a medida nas escolas que rejeitaram o projeto. O secretário afirmou que o governador “se antecipou” e anunciou a demissão antes mesmo de comunicá-lo.

João Pedro Ferraz assumiu Secretaria de Educação após demissão de Rafael Parente — Foto: TV Globo/Reprodução

João Pedro Ferraz assumiu Secretaria de Educação após demissão de Rafael Parente — Foto: TV Globo/Reprodução

Para o lugar de Rafael Parente, foi nomeado João Pedro Ferraz, que acumulará a função com a de Secretário de Trabalho. Uma nova audiência pública sobre a militarização das escolas está marcada para o meio-dia desta quinta-feira (22), no Auditório Dois Candangos, na Universidade de Brasília (UnB).