Aritmética eleitoral. Um pequeno exercício para 2022
Em 19 de novembro de 2021 – Redação – Por Sylvain Levy – Médico e Psicanalista
Faltando menos de um ano para as eleições gerais de 2022 e acompanhando as manifestações e comentários dos leitores nos sites de notícias nas redes sociais, é possível traçar um perfil dos internautas e, com todo cuidado, imaginar que esse perfil representa a população brasileira.
A grosso modo pode-se observar três grupos: os defensores de Bolsonaro, e detratores de Lula, do PT e das esquerdas (os chamados e ditos por eles de esquerdopatas e petralhas); os lulistas empedernidos, que classificam Bolsonaro e seus asseclas de fascistas e nazistas; e os nem-nem, ou seja, nem Lula nem Bolsonaro, e críticos violentos dos dois grupos, principalmente de seus líderes.
Esses três grupos, sem considerar as suas proporções na Internet, podem se distribuir no eleitorado brasileiro em três porções de 1/3 cada: direita, centro e esquerda. Desde o advento do retorno das eleições diretas, os resultados das votações são decididos pelo comportamento dos centristas, tendo em vista as posições consolidadas dos dois extremos – esquerda e direita. Conforme o pêndulo do terço centralista se inclina para um lado ou outro, a eleição é decidida.
Assim foi com Collor, FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. O terço de centro elege.
Em alguns outros países, como Estados Unidos e Inglaterra, onde o eleitorado se divide entre dois partidos – Democratas e Republicanos e Trabalhistas e Conservadores, muitas vezes os pleitos são resolvidos pela maior capacidade do agrupamento em conseguir levar mais eleitores às urnas. Já as posições política-ideológicas são marcantes e estigmatizadas meio-a-meio.
No Brasil, um quarto grupo, ainda não estudado em sua compartimentalização, é o constituído pelos que se recusam a escolher: os que se abstém, anulam ou votam em branco. Na última eleição para presidente do Brasil esses foram mais de 42 milhões de não votos, 31% do total de eleitores. Dos quais, 31 milhões, ou 21%, nem compareceram às urnas.
Bolsonaro teve 58 milhões de votos, Haddad 47 milhões e 42 milhões de não votos.
Considerando os pressupostos anteriores, de 1/3 de centristas e exclusivamente entre os votantes, Bolsonaro conseguiu mobilizar cerca de 23 milhões de eleitores do centro, enquanto Haddad conseguiu o mesmo com 12 milhões.
As pesquisas que circulam na atualidade ponderam que os eleitores fidelizados com Bolsonaro alcançam 21%, ou seja, entre os 23 a 32 milhões votos, tendo em conta o total de votantes em 2018 ou o total de eleitores registrados. Para esses levantamentos os que sufragariam ao ex-presidente Lula estariam entre 45 e 50% do eleitorado, o que o situaria com uma elástica margem entre 39 e 75 milhões de votos, sempre pensando no total de votantes de 2018 e no total de eleitores registrados nessa data.
Essa avalanche de números pode demonstrar que a eleição de 2022 está longe de estar decidida, pois evidencia que não basta conquistar o eleitorado de centro a pender a balança para um, ou outro lado, mas que é necessário, como nos países onde as escolhas eleitorais são polarizadas, realizar um trabalho de convencimento do cidadão a cumprir seu dever cívico de comparecer às urnas e votar, sem anular ou votar em branco.