A canetada sob medida

Celina Leão sanciona medida que dá direitos a ex-governadores para agradar Ibaneis e a si mesma, garantindo privilégios que podem se estender por décadas

Em 10 de setembro de 2025 – Redação

O Governo do Distrito Federal aprovou a lei que garante carro oficial, segurança pessoal e apoio institucional a ex-governadores. A justificativa é “proteger quem exerceu cargo de alta responsabilidade”. Traduzindo: se alguém já se acostumou com mordomia, não pode simplesmente voltar a andar de Uber como um cidadão comum.

A governadora em exercício, Celina Leão, mostrou habilidade em agradar. Primeiro, agradou Ibaneis Rocha, que deve deixar o cargo em 2026 para disputar o Senado. Depois, agradou a si mesma, afinal, ninguém disse que não se pode preparar o próprio presente de despedida com antecedência.

A conta é simples: Ibaneis já soma dois mandatos e, com a lei, garantiria mais quatro anos de privilégios. Se voltar ao Buriti após eventual passagem pelo Senado, o pacote pode se transformar em 24 anos de carro oficial, seguranças e conforto pago pelo contribuinte. Já Celina, que assume em 2026, não fica de fora: um mandato completo de governadora e mais quatro anos de bônus. Um plano de carreira que faria inveja a muito servidor público — só que sem concurso.

A realidade é bem diferente

O problema é que o jogo político raramente segue o roteiro dos sonhos. Celina enfrenta obstáculos dentro e fora do governo. O deputado federal Fred Linhares, que ensaiou candidatura, já recuou depois de ser massacrado e deve buscar a reeleição — típico caso de quem foi “engolido pelo sistema” antes mesmo de sair do forno.

No próprio GDF, secretários com pretensão eleitoral guardam munição para disparar fogo amigo a qualquer momento. No MDB, Rafael Prudente não esconde o desejo de ser o nome do partido. Fora dele, Paula Belmonte articula sigla e apoios, o PL continua dividido entre bolsonaristas e ibaneístas (com José Roberto Arruda flertando com a volta ao tabuleiro), e a senadora Damares Alves pode entrar na disputa sem precisar sequer deixar o cargo.

Ou seja: Celina ainda nem esquentou a cadeira de governadora e já tem fila formada na porta, cada um com sua própria chave de cópia.

Enquanto isso, a realidade da população é bem menos glamourosa. Hospitais lotados, escolas sucateadas, transporte público precário — mas a pressa foi garantir segurança e motorista para quem já teve tudo isso de sobra. É a velha política do “faça o que eu digo, mas financie o que eu quero”.

Com uma simples canetada, Celina e Ibaneis transformaram a proteção do Estado em benefício pessoal. No fim das contas, a lei não parece política pública: parece mais um contrato de fidelidade com validade estendida.

E para o cidadão comum, que paga a conta, sobra a dura lição: privilégio político é como promoção de banco — sempre cheio de bônus, mas nunca para o cliente que sustenta a agência.

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