Trabalhadores da Alimentação lançam campanha nacional para as negociações de 2016
A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins) lançou nesta sexta (29/01), a Campanha Nacional de Mobilização e Ação Para as Negociações em 2016. A iniciativa contempla uma pauta nacional de orientação aos sindicatos e federações, que é fruto de encontros setoriais realizados no período de 25 a 29 de janeiro, em São Paulo. O objetivo do documento, que abrange os interesses dos 1,5 milhão de trabalhadores ligados, principalmente, às indústrias frigoríficas e de bebidas (Ambev, Coca-Cola, Heineken, Kirin, BRF, JBS) é traçar estratégias de reação a situações de demissões em massa, redução salarial e de benefícios, reajustes abaixo da inflação e más condições de trabalho. Questões gerais como o interdito proibitório e a interferência de órgãos públicos na atuação sindical também foram debatidos no encontro.
Segundo o presidente da CNTA Afins, Artur Bueno de Camargo, o que motivou o encontro foi a dificuldade de negociações enfrentadas durante o ano passado.
“Nós optamos por realizar esse encontro logo no início do ano por entendermos que as representações sindicais não podem permitir que os empresários continuem a querer a jogar nas costas dos trabalhadores esta crise que não foram eles que cometeram. Não podemos mais aceitar desculpas em relação a crise porque sabemos que muitos grupos de empresas financiaram campanhas eleitorais, inclusive, de deputados, governadores, presidente da república. Então, se há crise é porque realmente tem alguém que não está cumprindo o seu papel corretamente e quem financiou essas campanhas também têm sua parcela de culpa, portanto, entendemos que essa parcela de culpa as empresas devem ser responsabilizar. “, comenta.
Segundo a entidade, a principal queixa recebida por parte dos representantes da categoria profissional da Alimentação foi dificuldade de reajustes salariais dignos aos trabalhadores, muitas vezes, com negociações firmadas abaixo da inflação.
“Foi unânime a decisão de que nós precisamos desenvolver uma campanha permanente para não só garantir o emprego dos trabalhadores, mas para evitar que sejam reduzidos os postos de trabalho. Estamos abertos às negociações, com as entidades abertas ao diálogo, mas jamais permitiremos a imposição com demissões ou qualquer pretensão de redução de direitos. É importante ressaltar que toda campanha salarial de 2016 será acompanhada atentamente e, sempre que solicitada, a confederação estará presente para lutar para que os trabalhadores não paguem a conta desta crise que não cometeram.”, avalia Bueno, que conclui: “Dentro daquilo que nós discutimos é importante ressaltar que essa posição tirada no nosso encontro também inclui que não permitiremos que nenhum órgão público ou privado venha interferir nas ações das entidades sindicais, que, por sua vez, estarão mobilizando os trabalhadores”.
Na avaliação do presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo (FETIASP), Melquíades de Araújo, “Nas horas de dificuldades as negociações têm que ser melhores”. Segundo ele, a expectativa é que a crise econômica se aprofunda neste ano, gerando mais incertezas. “Estamos enfrentando a inflação alta e a falta de confiança inibe os investimentos por parte da indústria e aí segue o caminho que conhecemos: queda na produção e o desemprego. Mas não podemos pagar a conta”, afirma.
“Além de lutarmos por melhores reajustes salariais, vamos continuar as lutas pela redução dos juros altos e mudanças na política econômica desenvolvidas pelas centrais sindicais”, declara, enfatizando que os trabalhadores da categoria da alimentação precisam manter a unidade na luta para obterem conquistas.
RESOLUÇÃO – NÃO VAMOS PAGAR A CONTA!
No Encontro Nacional da Categoria Profissional da Alimentação, promovido pela CNTA Afins no período de 25 a 29 de janeiro, em São Paulo – com o apoio da FETIASP, foi discutida a seguinte indagação: Quem são os culpados por esta crise?
Após um longo debate, concluiu-se e aprovou-se o seguinte:
1 A classe trabalhadora não tem nenhuma culpa e não pode pagar esta conta. Mas, aqueles que foram eleitos e não estão cumprindo o seu dever, e aqueles que financiaram as campanhas eleitorais destes, têm que assumir suas parcelas de responsabilidade.
2 As empresas que tiverem a necessidade e a pretensão de reduzir postos de trabalhos, as entidades sindicais estarão abertas ao diálogo para buscar outras alternativas. Mas, não aceitarão nenhuma imposição de demissão arbitrária.
3 A meta da representação dos trabalhadores é manter o poder aquisitivo de todos os representados, não permitindo nenhuma redução de direitos.
4 Não será permitido que a crise cause precarização do trabalho. Exigimos que sejam mantidas a segurança e a saúde dos trabalhadores.
5 Será desenvolvida uma campanha de unificação de datas-bases e pautas de reivindicações nos Estados. E a CNTA Afins orienta todas as entidades a não assinarem nenhum Acordo Coletivo de Trabalho ou Convenção por um período superior a um ano de duração.
6 Sempre que a inflação atingir 6% após a data-base, as entidades sindicais devem encaminhar ofício às empresas solicitando a aplicação do referido percentual no salário dos trabalhadores.
7 Será solicitada audiência com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para discutir as concessões de interdito proibitório por juízes do Trabalho em primeira instância que, segundo a avaliação das entidades sindicais, está havendo exagero.
8 As entidades se posicionam favoráveis à liberação do FGTS dos trabalhadores diretamente. Mas são contrárias que isto seja feito a título de empréstimo, com pagamento de juros, mesmo porque se trata de um direito exclusivo do trabalhador.
9 Ficou aprovado que a CNTA Afins, juntamente com as federações e sindicatos, desenvolverão campanhas permanentes de mobilização para não permitir que os trabalhadores sejam prejudicados com as consequências da crise.
10 Ficou decidido que não será permitida nenhuma interferência de órgãos, seja público ou privado, nas ações das entidades sindicais, pois elas pertencem aos trabalhadores. Portanto, a liberdade e a autonomia de decisão estão garantidas na Constituição Federal e terão de ser respeitadas.
Vídeo com entrevista com o presidente da CNTA Afins:https://youtu.be/8X0I0g8LhdY
Clarice Gulyas
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