Secretário Wellington Moraes em: “A retórica do esquecimento” veja print

 

Ao aplaudir uma matéria que chama Gim Argello de ex-presidiário, o secretário de Comunicação do GDF reabre, sem querer, as gavetas do próprio passado

Em 28 de outubro de 2023 – Redação

Há um velho ditado na política: quem vive de memória curta costuma tropeçar no próprio passado. O secretário de Comunicação do Governo do Distrito Federal, Wellington Moraes, parece testar esse limite com entusiasmo. Na semana passada, o titular da Secom distribuiu elogios a uma reportagem que classificava o ex-senador Gim Argello como “ex-presidiário”, um rótulo pesado, mas que, curiosamente, também lhe caberia com precisão.

O entusiasmo foi público. Em um grupo de WhatsApp que reúne políticos de diferentes matizes, o “Baiano”, como é conhecido, classificou o texto publicado pelo portal governista “Tudo OK Notícias” como “perfeito”, acrescentando ainda um “detalhezinho” que, segundo ele, teria faltado à narrativa.

Mas a lembrança seletiva diz mais sobre o autor do elogio do que sobre o alvo da matéria. Wellington Moraes foi preso em 2009, no auge da Operação Caixa de Pandora, investigação que desvendou o esquema de corrupção conhecido como “Mensalão do DEM”. A prisão foi amplamente noticiada e o levou, por alguns dias, ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde também estava o ex-governador José Roberto Arruda.

Quinze anos depois, o baiano segue ocupando uma das pastas mais estratégicas do governo Ibaneis Rocha, justamente a que controla a comunicação oficial e o discurso público do poder. Eis a ironia: ao celebrar a exposição de um ex-parlamentar com quem compartilha um passado semelhante, o secretário parece esquecer que o vidro do gabinete reflete mais do que as câmeras de TV.

Brasília, afinal, mantém sua tradição: personagens que se revezam entre a cela e o cargo, entre a vergonha e o holofote, entre o esquecimento e o microfone. E, nesse enredo de memórias curtas e longas transmissões, Wellington Moraes volta ao centro da frequência, não pela comunicação que comanda, mas pela história que insiste em lembrar o que ele preferiria apagar.

Adeus ao Bartô

No mesmo dia em que o Baiano comemorava o texto que escrachava Gim Argello, um dos seus assessores mais próximos pedia demissão. Bartolomeu Rodrigues, o Bartô, que já comandou a Secretaria de Cultura e atuava na equipe de comunicação, entregou o cargo após o governador Ibaneis Rocha sancionar a lei que institui o “Dia em Memória das Vítimas do Comunismo”.

Em carta de despedida, Bartô classificou a medida como um ato de revisionismo histórico e criticou o governo por ignorar as vítimas da ditadura militar. Citou casos emblemáticos, como os de Vladimir Herzog e Honestino Guimarães, e lembrou nomes que marcaram a construção de Brasília e da democracia, como Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro.

“É uma agressão à memória de JK, de Oscar Niemeyer, de Darcy Ribeiro e de todos os que se sacrificaram na luta contra o arbítrio. Representa ceder, a qualquer custo, às mentes mais retrógradas de uma página sombria de nossa história”, escreveu.

Veja print

Deixe um comentário