Saúde e Educação para o SUS
Em 1º de junho de 2022 – Redação – Artigo escrito por: Sylvain N. Levy –medico sanitarista e psicanalista e Cid B. Pimentel – pesquisador e consultor da FIPE
O SUS – Sistema Único de Saúde, como qualquer sistema operacional necessita para funcionar de recursos financeiros, materiais, funcionais e humanos. A população atendida reclama da precariedade dos recursos e todos os governos, desde sua criação em 1990, afirmam não dispor recursos financeiros e materiais para atender as demandas. A pandemia do Covid 19 comprovou que os recursos funcionais ainda são capazes de dar conta do recado, mas os recursos humanos, o que acontece com quem toca o SUS? E com o ambiente de trabalho?
A criação de ambientes saudáveis deve ser um capítulo especial nas relações entre os prestadores dos serviços de saúde, os funcionários e profissionais e o público que frequenta esses serviços. Ambiente saudável de trabalho favorece a saúde, diminui o stress, reduz os acidentes de trabalho e as doenças profissionais, estimula a satisfação com o trabalho e melhora a qualidade de vida do trabalhador. Nessa estratégia insere-se a capacitação dos recursos humanos, que para esta proposta assume uma nova concepção, a da “capacitação horizontal”, onde todas as categorias profissionais e setores de produção dos serviços são igualmente contempladas e todos os treinamentos têm objetivos similares, além da simples melhora da qualificação profissional. São esses objetivos: incrementar a percepção do valor de seu serviço para a população e para o sistema de saúde, focalizar sua inserção no SUS, aumentar o grau de resolutividade do serviço e aprimorar as técnicas gerenciais.
Dois aspectos devem ser ressaltados nesse campo: o da profissão e da formação. O estabelecimento de uma carreira para profissionais do SUS é uma imposição da realidade, que mais dia menos dia será concretizada. Carreira dividida nos estratos pedagógicos superior, técnico e auxiliar, sem distinção de profissão dentro delas, onde médicos, odontologos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros, serão remunerados igualmente, conformando a atenção multidisciplinar do SUS.
A progressão nessa carreira deveria acontecer por capacitação e dedicação, sem necessidade de remoção para cidades ou centros maiores ou assunção de cargos diretivos. Ou seja, um bom médico ou enfermeiro poderia alcançar o nível máximo da carreira sem deixar de ser um profissional de Posto ou UPA de periferia, valorizando o trabalho assistencial.
Elemento essencial é o investimento maciço em programas de educação em saúde, sob o enfoque da Promoção da Saúde, tanto para os profissionais da saúde como para a comunidade a qual deve servir. A participação comunitária e o desenvolvimento das habilidades pessoais são os dois fatores mais significativos para retirar dos serviços de saúde a responsabilidade exclusiva pelo atendimento dos problemas de saúde da população e dividir essa responsabilidade com a comunidade em geral e com as pessoas em particular. O instrumento para isso é a educação em saúde, desenvolvida pelo conjunto de atividades de informação, educação e comunicação.
Intramuros essas ações pretendem fazer com que os funcionários se sintam servidores e partícipes atuantes no processo saúde-doença e entendam sua participação não somente como operadores localizados de um procedimento administrativo-funcional.
Nesse momento é importante resgatar os pressupostos que envolvem os processos educativos, que têm sua base no acolhimento, na amorosidade, no respeito ao conhecimento e a vivência do outro, mas como o profissional de saúde pode se apropriar desses princípios se o dia a dia se traduz, em sua grande maioria, no contrário de tudo isso?
Fazer acontecer processos educativos, permanentes, intramuros que estejam voltados para o âmago do profissional de saúde é um desafio que deve ser enfrentado, pois o fazer acontecer, está na disposição, na energia que se pretende investir sobre o cotidiano desse ser humano, que por muitas vezes esquece que existe as suas necessidades, pois as trocas por uma couraça de ferro, uma armadura investida de tecnicismo e de atitudes assertivas sem a menor chance da amorosidade se expressar, pois o mundo cobra o seu profissionalismo, a sua presteza e a sua celeridade no atendimento.
Mas quais são as condições ideais para se investir em processos educacionais para os profissionais de saúde? Não há situação ideal, deve existir vontade política, ação efetiva de mudar processos que estão cristalizados pelo tempo e pela árdua trajetória desses atores, que em sua maioria dispendem toda a sua energia para fazer da sua ação um resgate de vidas de pacientes que estão desesperadamente em busca de solução para suas chagas.
A pandemia da Covid 19 traz à tona reflexões sobre a responsabilidade de cada um e cada uma sobre a vida e sobre a morte, sobre como se deve agir diante do inesperado, frente a angústia do próximo, observando que o próximo pode ser um profissional de saúde, que por muitas vezes tem a sua vida arrancada por se dedicar à exaustão e não perceber que o tempo é, por muitas vezes, o inimigo da sua atuação.
A educação para a saúde deve seguir por caminhos não percorridos, transpor barreiras que são alicerçadas na ausência do erro e no dever de estar presente sempre, deve incidir na alma do ser humano, que tem necessidades, escolhas e vida. O profissional de saúde deve ser visto como um ser em transformação, que tem defeitos e acertos, mas que antes de tudo preza pelo seu compromisso e pelo seu trabalho, devendo este ser qualificado e reconhecido para fazer a diferença a sua volta.