Putas belas e barulhentas escancaram feridas em Ato Político
Putas belas e barulhentas escancaram
feridas em Ato Político
Embalado pelo bolero charmoso de Nelson Gonçalves, sob uma luz vermelha do bar de um puteiro que destaca as expressões desesperadas de quatro prostitutas, a peça Ato Político, de Alberto Bruno, é uma adaptação ousada e firme da obra Monólogo da Puta no Manicômio, escrita pelo italiano Dario Fo em 1977. Rir do que não tem a menor graça é um dos incômodos provocados durante toda a crítica político-social acerca da profissão mais antiga do mundo. Aliás, não há como ignorar ou se distrair nesse espaço especial onde impera a arte, que é o Teatro de Boslo da Companhia da Ilusão. As “putas”, como elas mesmas se classificam o tempo inteiro no manicômio, apesar de tudo são sinônimos de atitude. Riem debochadamente da vida que levam e do que as levou a tal caminho. E olham na sua cara, faltando cuspir. Se eu não estiver delirando, senti até o perfume das malcriadinhas enquanto se movimentavam com seus erros de português, palavrões e expressões chulas nos cenários que ligam o bar e o manicômio.
Para chegar até a casa de loucos e se deparar com um doutor completamente impaciente e mal educado que apenas cumpre as anotações da prancheta, entre um gole de café e outro, as mulheres (encenadas por Érica do Vale, Ju Maraschin, Nayara Scaramussa e Priscilla Martins) se revoltam não só pelos abusos de clientes trambiqueiros e agressivos como à renúncia social. E se jogam de pernas e feridas abertas no sofá, até mesmo de cabeça para baixo, na presenta do estúpido doutor para tentar explicar o que não conseguem. Por isso as gargalhadas sensacionais, os sermões e choramingos para falar durante uma hora daqueles que “não viram e nunca veem nada” do que acontece à elas.
E pensando nas loucuras dessas quatro geniosas mulheres da vida, e em suas duras realidades retratadas na peça, lembrei de uma amiga minha garota de programa que quando entrou para a profissão, há seis anos, chegou a rasgar dinheiro de felicidade. Depois, pagava a faculdade de Enfermagem, enquanto ajudava a mãe no salão de beleza nos finais de semana. Isso sim é atitude. Ela não é do estilo bagaceira e escrachada como as da montagem, mas também precisa fazer seus atos políticos por aí. Gostei e recomendo, sobretudo, para os homens!
Com elenco de Érica do Vale, Ju Maraschin, Nayara Scaramussa, Nicolas Fujimoto e Priscilla Martins a trama se passa num manicômio judiciário quando as garotas de programa, exploradas e espancadas constantemente pela polícia e seus clientes noturnos, organizam um manifesto que gera um incêndio criminoso ou político, de acordo com a visão do público.
inspiração italiana
Ator, autor, pintor e encenador italiano, Dario For recebeu em 9 de outubro de 1997 o Prêmio Nobel de Literatura quando teve sua destacada por seu realismo contundente. Franca Rame é atriz, autora e romancista italiana. Casada com Dario Fo desde 1954, é parceira dele em várias peças, tanto como escritora como intérprete de personagens no palco.
Por Clarice Gulyas
Parabéns pela reportagem!
Ficou sensacional!!!!
Esse Blog está começando a me dar orgulho.